Dormia tudo como se o universo fosse um erro; e o vento; flutuando incerto, era uma bandeira sem forma desfraldada sobre um quartel sem ver. Esfarrapava-se coisa nenhuma no ar alto e forte, e os caixilhos das janelas sacudiam os vidros para que a extremidade se ouvisse. No final de tudo, calada, a noite era o túmulo de Deus (a alma sofria com pena de Deus).
E, de repente – nova ordem das coisas universais agia sobre a cidade – o vento assobiava no intervalo do vento, e havia uma noção dormida de muitas agitações na altura. Depois a noite fechava-se como um alçapão, e um grande sossego fazia vontade de ter estado a dormir.
(trecho do 'Livro do Desassossego' – trecho 32)
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