Caio Fernando Abreu

"Depois de todas as tempestades e naufrágios, o que sobra de mim em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro." Caio Fernando Abreu

31 janeiro 2009

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.


Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.


Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Murmúrio

Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.


Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.


Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!

Canção


Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

28 janeiro 2009

Arrume tempo...

Arrume tempo para ser feliz.
é fundamental que você não repare apenas nas flores,
mas tenha tempo para cheirar seus odores e apreciar suas cores,
e principalmente, disponha de tempo para oferecer uma flor para alguém.

Arrume tempo para a boa música..
é fundamental que você ouça uma boa música,
mas é mais importante ainda, deixar que a música limpe a sua alma,
que ela penetre no seu ser e que você viva cada nota.

Arrume tempo para relaxar.
Tenha tempo para se deixar levar pelas coisas simples da vida,
como meditar, orar, emocionar se, brincar no parque, andar de patins,
de bicicleta ou simplesmente não fazer nada...

Arrume tempo para uma viagem.
Pode ser uma viagem curta, ou longa,
tudo depende de sua disposição, tempo e dinheiro,
mas o mais importante é ter tempo para curtir a paisagem
e não ficar esperando apenas pela chegada ao local.

Arrume tempo para uma boa leitura.
Leia um livro, mas tenha tempo para ler
e viajar com os personagens, onde a emoção puder te levar.

Arrume tempo para organizar-se.
É fundamental ter tempo para organizar as suas coisas,
mas é fundamental ter um tempo para organizar as suas idéias,
seus desejos e reciclar os sonhos.
Sonhos parados são como água estagnada, criam bichos e doenças.

Arrume tempo para a família.
É fundamental criar filhos, namorar (mesmo depois de 30 anos de casados),
bater papo com os pais, com os irmãos, com os amigos mais próximos,
mas é muito importante que você não guarde mágoas, por isso,
a conversa ainda é a melhor resposta contra as dúvidas, dores e separações.

Arrume tempo para Deus.
É fundamental contar com Deus.
Seja qual for a sua crença, seja qual for a sua religião,
sem Deus é impossível ser plenamente feliz.
Quanto tempo de sua vida é dedicado a Ele?
Quantos minutinhos você dedica a leitura de um salmo,
um versículo, uma passagem da Bíblia para meditar e praticar mudanças.
Quanto de suas decisões tem a opinião de Deus?

Arrume tempo para o amor.
Ame-se!
Ame muito.
Não se importe com as dores e decepções do amor,
mais infeliz é aquele que ainda não viveu um grande amor,
e todo amor fica enorme, quando você respeita o sentimento
que habita em você e existe para te fazer feliz!
A vida em si mesma já é um ato de amor.
(Paulo Roberto Gaefke)

26 janeiro 2009

Oração a mim mesma

Que eu me permita olhar e escutar e sonhar mais.
Falar menos. Chorar menos.
Ver nos olhos de quem me vê a admiração que eles me têm e não a inveja que, prepotentemente, penso que têm.

Escutar com meus ouvidos atentos e minha boca estática, as palavras que se fazem gestos e os gestos que se fazem palavras.
Permitir sempre escutar aquilo que eu não tenho
me permitido escutar.
Saber realizar os sonhos que nascem em mim e por mim e
comigo morrem por eu não os saber sonhos.
Então, que eu possa viver os sonhos possíveis e os impossíveis;
aqueles que morrem e ressuscitam a cada novo fruto,
a cada nova flor, a cada novo calor, a cada nova geada, a cada novo dia.

Que eu possa sonhar o ar, sonhar o mar,
sonhar o amar, sonhar o amalgamar.
Que eu me permita o silêncio das formas,
dos movimentos, do impossível,
da imensidão de toda profundeza.
Que eu possa substituir minhas palavras
pelo toque, pelo sentir, pelo compreender,
pelo segredo das coisas mais raras, pela oração mental
(aquela que a alma cria e que só ela, alma, ouve
e só ela, alma, responde).

Que eu saiba dimensionar o calor, experimentar a forma,
vislumbrar as curvas, desenhar as retas,
e aprender o sabor da exuberância que se mostra
nas pequenas manifestações da vida.
Que eu saiba reproduzir na alma a imagem
que entra pelos meus olhos
fazendo-me parte suprema da natureza, criando-me
e recriando-me a cada instante.

Que eu possa chorar menos de tristeza
e mais de contentamentos.
Que meu choro não seja em vão, que em vão não sejam
minhas dúvidas.
Que eu saiba perder meus caminhos mas saiba recuperar
meus destinos com dignidade.
Que eu não tenha medo de nada,
principalmente de mim mesmo:

- Que eu não tenha medo de meus medos!
Que eu adormeça
toda vez que for derramar lágrimas inúteis,
e desperte com o coração cheio de esperanças.
Que eu faça de mim um homem sereno
dentro de minha própria turbulência,
sábio dentro de meus limites pequenos e inexatos,
humilde diante de minhas grandezas tolas e ingênuas
(que eu me mostre o quanto são pequenas
minhas grandezas e o quanto é valiosa minha pequenez).

Que eu me permita ser mãe, ser pai,
e, se for preciso, ser órfão.
Permita-me eu ensinar o pouco que sei
e aprender o muito que não sei,
traduzir o que os mestres ensinaram
e compreender a alegria
com que os simples traduzem suas experiências;
respeitar incondicionalmente o ser;
o ser por si só, por mais nada que possa ter além de sua essência,
auxiliar a solidão de quem chegou, render-me ao motivo de quem partiu
e aceitar a saudade de quem ficou.
Que eu possa amar e ser amado.
Que eu possa amar mesmo sem ser amado,
fazer gentilezas quando recebo carinhos;
fazer carinhos mesmo quando não recebo gentilezas.

Que eu jamais fique só, mesmo quando eu me queira só.
Amém.
(Oswaldo Antônio Begiato)

23 janeiro 2009

Oh, Lord!

Liguei o rádio do carro e santa nostalgia: estava tocando uma música da Janis Joplin que marcou minha infância, mesmo que naquela época eu não entendesse quase nada de inglês – não que entenda muito hoje. Você deve lembrar, é um clássico, começa dizendo: "Oh, Lord, won't you buy me a Mercedes Benz? My friends all drive Porshes, I must make amends", que significa mais ou menos: "Oh, senhor, não quer me comprar um Mercedes Benz? Todos os meus amigos dirigem Porsches, eu preciso compensar." E seguia nessa irônica e provocativa prece pedindo nem paz, nem amor, e sim uma tevê a cores e noitadas. Se Ele a amasse mesmo, não a deixaria na mão.
Oh, Lord, quantas pessoas, hoje, não estão por aí também rezando por uma Louis Vuitton original de fábrica e por uma poderosa tevê de plasma? Elas abrem as revistas e estão todos tão melhores de vida do que elas, como ser feliz sem igualdade de condições? Dê a essas pessoas o que elas pedem, Senhor, é só fazê-las ganhar um sorteio, uma rifa. Imagine a dificuldade que o Senhor teria para atendê-las caso elas pedissem um mundo mais acolhedor, menos agressivo, mais sensato, o trabalhão que iria dar.
Oh, Lord, reconheça a inocência de quem lhe pede uma casa na praia, um chalezinho na montanha, ou mesmo um belo apartamento em bairro nobre, o Senhor sabe que essas pessoas não foram treinadas para se satisfazerem com o que têm, mesmo que tenham tanta coisa, como família, paz de espírito, um emprego decente, mas isso não conta, isso não enche barriga de ninguém.
Oh, Lord, ninguém anda rezando por fé, pela saúde do vizinho, para resistir aos apelos consumistas, nem mesmo para simplesmente dizer: "Obrigada, Senhor". Não se faz mais esse tipo de concessão: afinal, obrigada por que? Eles querem ser convidados para as festas. Eles querem melhorar. Compense-os com um relógio de grife, uma corrente de ouro, um celular bem fininho e uma câmera digital, eles não podem comprar, mas o Senhor pode, o Senhor tem crédito em qualquer loja, o Senhor só precisa fazer abracadabra e tudo se resolve.
Janis Joplin gravou essa música em 1970. Nos últimos 37 anos, o número de súplicas estapafúrdias segue aumentando e quase ninguém mais lembra de agradecer o mistério da existência, o poder transformador dos afetos, a liberdade de escolha, o contato com o que ainda nos resta de natureza, o encanto dos encontros, a poesia que há numa vida serena, a alma nossa de cada dia, essas coisas que aparecem tão obsoletas, e pelo visto são. Oh, Lord, desça daí, faça alguma coisa, que aqui embaixo trocaram o abstrato pelo concreto e não demora estarão pedindo a parte deles em dinheiro.   (texto do livro 'Doidas e Santas')

22 janeiro 2009

Onde é que eu ia mesmo?

Uma vez escrevi uma crônica que se chamava "Coisa com coisa". Era sobre a minha vexamosa tendência de trocar o nome das pessoas. Não apenas nomes de pessoas que mal conheço, mas também nomes de parentes. Parentes próximos, como filhos. Com o tempo, comecei a trocar também nomes de objetos, a me embaralhar com verbos e a perder palavras que estavam na ponta da língua. Ou seja, passei a não dizer mais coisa com coisa.
Pois tenho novidades: piorei muito.
Às vezes estou no meu quarto e penso: vou na sala buscar meus óculos. Quando estou no corredor, já esqueci o que ia fazer na sala. Quando chego na sala, olho em volta e tento descobrir o que fui fazer ali. Não recordo. Fico feito uma barata tonta: "O que era mesmo?" Volto pro quarto de ré, pra ver se a memória é resgatada no rewind, feito fita rebobinada, mas não adianta. Dali a dois minutos, lembro: "Ah, eu ia pegar os óculos! Onde mesmo?"
Tenho comentado isso com alguns amigos, na esperança de que me olhem com piedade e me recomendem um bom médico, mas o que mais escuto é: "Comigo tem sido a mesma coisa". Pesquisei com conhecidos dos dezenove aos noventa anos. Com todos tem sido assim. Alzheimer geral. Tem alguma coisa errada, e não é só comigo.
Li recentemente uma matéria que associa a falta de memória com a falta de sono. É uma teoria. Os especialistas entrevistados para a matéria recomendam que a gente não abra mão de dormir oito horas seguidas. Dizem que isso não é balela, que ajuda mesmo o cérebro a descansar e a retomar as tarefas do dia seguinte com funcionamento pleno. Maravilha. Oito horas de sono. Me explique como.
Eu apago a luz cedo. Antes da meia-noite. Às vezes às dez e meia. Tenho perdido o Saia Justa por causa disso. O Manhattan Connection. A minissérie Queridos Amigos. Meu sono está me emburrecendo, mas, quando os olhos pesam, não há outra saída a não ser capitular. Desligo o abajur e apago junto. Só que às quatro da matina minha cabeça acorda sozinha! A cabeça, essa maldita. Ela então faz um apanhado geral dos problemas a serem resolvidos no dia seguinte.Na verdade, nem problemas são, mas durante a madrugada qualquer unha encravada vira um câncer terminal. Sabe como é, a noite potencializa o drama. Então fico eu ali fritando nos lençóis, pensando, pensando. Verbo desgraçado: pensar.
Quando consigo pegar no sono de novo, o despertador faz o seu serviço: me desperta. Cedíssimo: hora de levar os filhos (o nome deles, mesmo?) ao colégio. Há quem tenha  reunião no escritório. Outros massagens. Outros precisam ir para a parada de ônibus. Quem consegue hoje em dia dormir oito horas de sono cravado? Os milionários, e nem eles, eu acho.
Tampouco tenho sonhado. Não há sono suficiente para criar uma historinha com começo, meio e fim. Freud teria dificuldade em trabalhar hoje em dia: dorme-se pouco. E lembra-se menos ainda. Fim de era para o descanso e a memória. Do que eu estava falando mesmo?
A solução é mudar a rotina. Ver menos televisão. Ter menos obrigações. Morar em lugares mais silenciosos. Ter menos vida noturna. Menos compromissos. Menos agenda. Menos e-mails. Menos contatos profissionais, mais amigos. Menos trabalho, mais férias. Menos filhos: é difícil decorar dois nomes. Filho único é mais fácil. E deixar de frescura e pendurar logo aquele troço medonho que prende as hastes dos óculos ao nosso pescoço. (texto do livro 'Doidas e Santas')

18 janeiro 2009

Desventura


Tu és como o rosto das rosas:
diferente em cada pétala.
Onde estava o teu perfume? Ninguém soube.
Teu lábio sorriu para todos os ventos
e o mundo inteiro ficou feliz.
Eu, só eu, encontrei a gota de orvalho que te alimentava,
como um segredo que cai dos sonho.
Depois, abri as mãos, – e perdeu-se.
Agora, creio que vou morrer.

A mulher e a casa

Tua sedução é menos
de mulher do que de casa;
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.

Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,

uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.

Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;
pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;

pelos espaços de dentro:
seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,

os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,

exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.
(João Cabral de Melo Neto)

Aviso

Se me quiserem amar, terá de ser agora:
depois, estarei cansada.
Minha vida
foi feita de parceria com a morte:
pertenço um pouco a cada uma,
para mim sobrou quase nada.

Ponho a máscara do dia,
um rosto cômodo e fixo:
assim garanto a minha sobrevida.
Se me quiserem amar, terá de ser hoje:
amanhã, estarei mudada. 

12 janeiro 2009

Profissão – Mãe

Ela foi renovar seu documento, pediram-lhe para informar qual era a sua profissão, hesitou, sem saber bem como se classificar.
"O que eu pergunto é se tem um trabalho", insistiu o funcionário."
Claro que tenho um trabalho", exclamou . "Sou mãe". 
"Nós não consideramos 'mãe' um trabalho. Vou colocar Dona de casa", disse o funcionário friamente. 

Não voltei a lembrar-me desta história até o dia em que me encontrei em situação idêntica... 
A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante. "Qual é a sua ocupação?" Perguntou. 
Não sei o que me fez dizer isto; as palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora: 

"Sou Doutora em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas." A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar para o ar e olhou-me como quem diz que não ouviu bem... Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas. Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial. Posso perguntar", disse-me ela com novo interesse, "o que faz exatamente?" Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder: "Desenvolvo um programa a longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa). Sou responsável por uma equipa (a minha família) e já recebi quatro projectos (todas meninas). Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda???), o grau de exigência é em nível de 14 horas por dia (para não dizer 24 horas). Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária que acabou de preencher o formulário, se levantou pessoalmente foi abrir-me a porta. Quando cheguei a casa, com o título da minha carreira erguido, fui recebida pela minha equipa: - uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 3. Do andar de cima, pude ouvir o meu mais recente projecto (um bebé de seis meses), a testar uma nova tonalidade de voz. Senti-me triunfante. Maternidade... que carreira gloriosa! Assim, as avós deviam ser chamadas "Doutora-Sénior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas". As bisavós: "Doutora- Executiva- Sénior". E as tias: "Doutora - Assistente". (não sei a autoria)

Nenhuma mulher é fantasma

... Ok, uma mulher é apenas uma mulher, mas uma mãe é um vulcão, um furacão, uma enchente, uma tempestade, um terremoto. Uma mãe é invencível. Não há perda que ela não trasnforme em força. Não há passado que ela não emoldure e coloque na parede. Não há medo que a mantenha quieta por muito tempo ... (Martha Medeiros – trecho do livro 'Doidas e Santas' pág. 119)

11 janeiro 2009

Canção do primeiro do ano

Anjos varriam morcegos
Até jogá-los no mar.

Outros pintavam de azul,
De azul e de verde-mar,
Vassouras de feiticeiras,
Desbotadas tabuletas,
Velhos letreiros de bar.

Era uma carta amorosa?
Ou uma rosa que abrira?
Mas a mão correra ansiosa
- Ó sinos, mais devagar! -
À janela azul e rosa,
Abrindo-a de par em par.

Ó banho de luz, tão puro,
Na paisagem familiar:
Meu chão, meu poste, meu muro,
Meu telhado e a minha nuvem,
Tudo bem no seu lugar.

E os sinos dançam no ar.
De casa a casa, os beirais,
- Para lá e para cá -
Trocam recados de asas,
Riscando sustos no ar.

Silêncios. Sinos. Apelos. Sinos.
E sinos. Sinos. E sinos. Sinos.
Pregoeiros. Sinos. Risadas. Sinos.
E levada pelos sinos,
Toda ventando de sinos,
Dança a cidade no ar!

Soneto I

Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir.
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.
O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca propriamente reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente. [agosto de 1913]
(Poemas de Álvaro de Campos)

Mal-entendido

O mundo funciona graças ao mal-entendido. É mediante o mal-entendido universal que todos concordam. Pois, se, por falta de sorte, as pessoas se compreendessem umas às outras, jamais concordariam.   (Baudelaire – 1867)

Imitação

Cada um traz dentro de si um reservatório de frases, epítetos e locuções prontas que resultam de pura imitação. Elas nos livram do trabalho de pensar porque a tomamos como soluções válidas e apropriadas. Na maior parte das vezes, reagimos ao que nos acontece usando palavras que não são nossas. Não somos os seus reais autores. [...] É por isso que não devemos acreditar rápido demais em nossas próprias palavras.  (Paul Valéry – 1935)

Meu mundo caiu

Maysa

Meu mundo caiu
E me fez ficar assim
Você conseguiu
E agora diz que tem pena de mim

Não sei se me explico bem
Eu nada pedi
Nem a você nem a ninguém
Não fui eu que caí

Sei que você me entendeu
Sei também que não vai se importar
Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar

01 janeiro 2009

Cortar o tempo

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-o funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente....

...Para você,
Desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.

Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.

Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que a sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.

Gostaria de lhe desejar tantas outras coisas.
Mas nada seria suficiente...

Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto,
ao rumo da sua FELICIDADE!!!

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