Caio Fernando Abreu

"Depois de todas as tempestades e naufrágios, o que sobra de mim em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro." Caio Fernando Abreu

05 setembro 2009

Minha Terra!

Quanto é grato em terra estranha
Sob um céu menos querido,
Entre feições estrangeiras,
Ver um rosto conhecido;

Ouvir a pátria linguagem
Do berço balbuciada,
Recordar sabidos casos
Saudosos — da terra amada!

E em tristes serões d'inverno,
Tendo a face contra o lar,
Lembrar o sol que já vimos,
E o nosso ameno luar!

Certo é grato; mais sentido
Se nos bate o coração,
Que para a pátria nos voa,
P'ra onde os nossos estão!
Depois de girar no mundo
Como barco em crespo mar,
Amiga praia nos chama
Lá no horizonte a brilhar.

E vendo os vales e os montes
E a pátria que Deus nos deu,
Possamos dizer contentes:
Tudo isto que vejo é meu!

Meu este sol que me aclara,
Minha esta brisa, estes céus:
Estas praias, bosques, fontes,
Eu os conheço — são meus!

Mais os amo quando volte,
Pois do que por fora vi,
A mais querer minha terra,
E minha gente aprendi.























Gonçalves Dias – Paris, 1864

Canção da tarde no campo

Caminho no campo verde
Estrada depois de estrada.
Cercas de flores, palmeiras,
Serra azul, água calada.

Eu ando sozinha
No meio do vale.
Mas a tarde é minha.

Meus pés vão pisando a terra
Que é a imagem da minha vida:
Tão vazia mas tão bela,
Tão certa, mas tão perdida!

Eu ando sozinha
Por cima de pedras
Mas a flor é minha.

Os meus passos no caminho
São como os passos da lua;
Vou chegando, vais fugindo,
Minha alma é a sombra da tua.

Eu ando sozinha
Por dentro de bosques
Mas a fonte é minha

De tanto olhar para longe
Não vejo o que passa perto.
Subo monte, desço monte,
Meu peito é puro deserto.

Eu ando sozinha
Ao longo da noite
Mas a estrela é minha.

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