Caio Fernando Abreu

"Depois de todas as tempestades e naufrágios, o que sobra de mim em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro." Caio Fernando Abreu

17 outubro 2009

As mãos estendidas

de Olga Savary
a Carlos Drummond de Andrade


Nessa direção
da janela aberta
vem o Murundu,
o bicho-papão
metendo medo em
quem anda acordado
inda a essas horas.
Em outro lugar
cisma outra criança.
Triste é não poder ter um outro vôo
que não o poético
da imaginação
para a consolar.
E assim ficamos
entre o querer
estendendo as mãos
e deixando-as cair.

Éden Hades



Jardins de água fartavam-nos de sol inchado em veias
pendendo como manga e eu era como dono de navio
altivo e digno. Que nem vogal aberta, abri portas para
a areia em repentina perda da memória.
Que o ar seja bebido tal um navio.
Tudo o que é brisa aflora nos terraços
e vibra nos sagarços sobre as vagas.
Apanhada na armadilha
Faz-se a treva manhã.
Estas as figurações do sonho:
uma placa de prata e um nome inscrito,
hoje apagado, gravado há muito,
muito tempo. E só. Os deuses nos convocam,
nos querem a todo porque nada querem,
riem de nós, perdem-nos ao nos buscar e às nossas
perguntas fazem ouvidos moucos,
não respondem senão ao eco oco.
Tudo perde o sentido mal é pronunciado.

de: Olga Savary

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