Caio Fernando Abreu

"Depois de todas as tempestades e naufrágios, o que sobra de mim em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro." Caio Fernando Abreu

18 novembro 2008

Apelo

Vinícius de Moraes

Ah, meu amor não vais embora
Vê a vida como chora,
vê que triste esta canção
Não, eu te peço, não te ausentes
Pois a dor que agora sentes,
só se esquece no perdão
Ah, minha amada me perdoa
Pois embora ainda te doa a
tristeza que causei
Eu te suplico não destruas tantas
coisas que são tuas
Por um mal que eu já paguei

Ah, minha amada, se soubesses
Da tristeza que há nas preces
Que a chorar te faço eu
Se tu soubesses num momento
todo arrependimento
Como tudo entristeceu
Se tu soubesses como é triste
Perceber que tu partiste
Sem sequer dizer adeus

Ah, meu amor tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus

só falado
De repente do riso fez-se o pranto,
silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento,
Que dos olhos desfez a última chama,
E da paixão fez-se o pressentimento,
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente não mais que de repente,
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo, o distante,
Fez-se da vida uma aventura errante,
De repente não mais que de repente.


Ah, meu amor tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus.

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