É a hora em que o sino toca,
Mas aqui não há sinos;
Há somente buzinas,
Sirenes roucas, apitos
Aflitos, pungentes, trágicos,
Uivando escuro segredo;
Desta hora tenho medo.
É a hora em que o pássaro volta,
Mas de há muito não há pássaros;
Só multidões compactas
Escorrendo exaustas
Como óleo
Que impregna o lajedo;
Desta hora tenho medo.
É a hora do descanso,
Mas o descanso vem tarde,
O corpo não pede sono,
Depois de tanto rodar;
Pede paz - morte - mergulho
No poço mais ermo e quedo,
Desta hora tenho medo.
Hora de delicadeza,
Agasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo ?
É antes a hora dos corvos,
Bicando em mim, meu passado,
Meu futuro, meu degredo;
Desta hora sim,tenho medo.
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